Nação

Imagens de câmeras corporais de PMs do Rio revelam abusos e tragédias da profissão

2024-12-02

Autor: Carolina

Tour da propina: PMs extorquem comerciante e abandonam o atendimento a ocorrências

Em uma chocante revelação, policiais militares do Rio de Janeiro foram filmados extorquindo dinheiro de um comerciante apenas uma hora antes de numa abordagem que poderia ter salvado vidas. As imagens de câmeras corporais têm exposto um lado sombrio da Polícia Militar, que já contabiliza mais de 2,6 mil processos nos últimos dois anos para investigar irregularidades na conduta de seus agentes. Uma das investigações se concentra em dois policiais que foram acionados para perseguir um grupo de assaltantes na Zona Norte do Rio. A ação terminou de forma trágica: ao se aproximarem dos suspeitos, um dos agentes disparou contra o veículo em que eles estavam.

As gravações mostram que, após o tiroteio, o motorista do carro suspeito saiu com as mãos para cima, mas ainda assim foi atingido. Indivíduos presentes relataram que o policial, Daniel de Souza Braga, disparou em um momento de aparente desespero e confusão. Em um diálogo depois da ocorrência, a incongruência na versão dos policiais ficou evidente: — O sargento se excedeu um pouquinho, deu nas costas do cara quando o cara desceu. Eu só dei nas pernas, entendeu? — comentou um PM.

Fato é que a vítima, mesmo com o histórico delituoso, não merecia tal destino. Ele havia sido acusado de roubo e condenado a seis anos. O sargento, por sua vez, foi afastado enquanto as investigações prosseguem.

A coronel Claudia Moraes, porta-voz da PM, insistiu que desvios de conduta são exceções e que 90% dos policiais atuam de forma correta, apesar das evidências em contrário. Esta declaração foi recebida com ceticismo pela sociedade.

Sem imagens, sem respostas

Uma reportagem revelou que em 61% dos casos analisados, as gravações solicitadas pela Justiça nem sequer foram entregues. A Polícia Militar alega que a falta de gravações se deve ao fato de os policiais não terem acionado os botões de 'ocorrência', que salvam os vídeos por até um ano. Além disso, muitos agentes davam uma volta para esconder suas câmeras.

As câmeras têm mostrado também a situação perigosa em que os PMs trabalham, constantemente ameaçados por traficantes e milicianos armados. Recentemente, um sargento foi baleado enquanto tentava prender traficantes em Itaboraí, ressaltando o risco que enfrentam todos os dias. Ele era um dos 33 policiais mortos este ano, e o acusado de seu assassinato já se encontra preso e à espera de julgamento.

Em resposta a uma investigação do Ministério Público, a PM anunciou melhorias no sistema de câmeras, prometendo aperfeiçoar o armazenamento de imagens de 60 para 90 dias e a implementação de um sistema de monitoramento em estações de carregamento. No entanto, essa mudança é vista com ceticismo entre os críticos, que questionam se uma nova tecnologia será suficiente para promover a transparência e a integridade da corporação.

Casos de suborno, como o de uma mulher que tentou oferecer R$ 1 mil a um PM para soltar um homem que havia sido preso por roubo, só aumentam as interrogações sobre a ética nas ações policiais. O agente, recusando a oferta, afirmou categoricamente que não aceitaria propinas, reforçando a luta contra a corrupção no interior da corporação.

Os dilemas enfrentados pela polícia no Rio trazem à tona um debate essencial sobre segurança pública e a verdadeira missão da força policial: proteger a sociedade ou se envolver em práticas corruptas. Enquanto as novas medidas não forem eficazes, a desconfiança entre a população e a polícia permanecerá, gerando um ciclo vicioso de descontentamento e violência.