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Inflação x Vida Real: Por que os Preços do Dia a Dia Podem Subir Muito Mais do que o IPCA

2025-01-13

Autor: Ana

A inflação oficial do Brasil em 2024 fechou em 4,83%, impulsionada principalmente pelos aumentos nos preços da alimentação, educação e saúde. Entretanto, esse número é apenas uma média e esconde nuances importantes da realidade econômica que os brasileiros enfrentam.

O setor de Alimentação e Bebidas, que teve alta de 7,69%, foi o maior responsável pelo descontentamento dos consumidores. Itens como carne, café e leite sofreram aumentos muito superiores a essa média, levando muitos a perceberem que a inflação é, na verdade, ainda mais severa do que os dados oficiais sugerem.

Especialistas confirmam que a escalada dos preços dos alimentos reflete a insatisfação e o desconforto dos consumidores nas compras do dia a dia. Para compreender a disparidade entre a percepção de inflação e os dados do IPCA, é essencial entender a abrangência deste índice.

O IPCA, considerado o principal indicador de inflação do país, acompanha os preços de uma vasta cesta de produtos e serviços. São 377 itens medidos mensalmente, abrangendo cerca de 90% das famílias urbanas com renda entre 1 e 40 salários mínimos. Para aqueles que ganham até um salário mínimo, a forte alta nos preços de alimentos impacta diretamente em seus orçamentos, causando um sofrimento maior em comparação àqueles com rendas mais altas.

O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, observa que a maioria das famílias brasileiras pertence à classe média-baixa e destina uma parte significativa de sua renda para alimentos. Com isso, mesmo com um IPCA de 4,83%, a alta dos alimentos foi de cerca de 8%. Essa discrepância explica a sensação constante de que os preços estão subindo mais rápido do que os dados oficiais indicam.

Além disso, a diferença nos aumento de preços pode variar de região para região. O economista Felippe Serigati menciona que a percepção sobre a inflação pode ser distinta dependendo do estado ou da cidade que se vive, o que leva a diferentes experiências e sensações em relação aos preços.

Outro ponto importante é a confusão entre 'deflação' e 'desaceleração' da inflação. Deflação se refere à queda dos preços, enquanto a desaceleração significa que os preços estão subindo, mas em um ritmo mais lento. Isso gera ainda mais incertezas e má compreensão sobre como a inflação realmente afeta o dia a dia da população.

Os itens considerados básicos, como alimento, têm um peso maior na percepção da inflação, diferentemente de bens não perecíveis, como eletrônicos, que podem parecer baratos por um período mas não impactam diretamente o cotidiano das pessoas.

A expectativa dos consumidores sobre a inflação também tende a ser mais pessimista do que a do mercado. De acordo com a Sondagem do Consumidor da FGV, os brasileiros frequentemente projetam uma inflação mais alta do que a realmente registrada, refletindo uma vivência diária e mais intensa dos aumentos de preços, além de uma memória recente marcada por crises econômicas, como a alta inflação observada durante a pandemia de COVID-19, que fechou em 10,06% em 2021.

Esse sentimento de pessimismo entre os consumidores pode demorar a se dissipar, conforme as dificuldades econômicas e os preços insuflados continua a impactar suas vidas. Com a contínua previsão de aumento nos preços de itens essenciais, como carnes, que subiram 20,8% em 2024, as expectativas futuras não parecem favoráveis.

Assim, enquanto o IPCA pode apresentar números controláveis em média, a realidade é que muitos brasileiros ainda enfrentam um cenário de inflação crônica nas despesas do dia a dia.