Mundo

Refém do Hamas relata 52 dias de sofrimento inimaginável

2025-03-23

Autor: Gabriel

A israelense Karina Engel-Bart descreve sua experiência como "52 dias de um inferno diário", durante o qual ela e sua família foram mantidos como reféns pelo grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza. Eles foram sequestrados em sua casa durante o ataque em 7 de outubro de 2023.

Natural da região de Córdoba, na Argentina, Karina se mudou para Israel aos 17 anos, onde conheceu seu marido, Ronen, em um encontro inesperado enquanto passeavam com seus cães, como em uma cena do filme "101 Dálmatas".

Vivendo no kibutz de Nir Oz, próximo à fronteira com Gaza, o casal tinha três filhos: Tom, 22 anos, Yuval, 20 anos, e Myca, 12 anos. Infelizmente, essa comunidade foi uma das mais afetadas durante os ataques de outubro; um em cada quatro moradores foi morto ou sequestrado.

A tragédia atingiu a família de Karina quando Ronen foi levado primeiro pelos terroristas e, tragicamente, foi assassinado. Seu corpo não foi recuperado e ele é um dos 69 reféns, vivos ou mortos, que ainda permanecem em Gaza.

Karina foi sequestrada em seguida, enquanto suas filhas, Myca e Yuval, foram levadas para outro local. Mãe e filhas só se reencontraram 23 dias depois, em um hospital em Gaza, até serem finalmente libertadas em um acordo de cessar-fogo em novembro de 2023.

Karina compartilhou sua história em uma entrevista realizada em São Paulo, durante uma visita ao Brasil a convite da Federação Israelita de São Paulo (Fisesp) e da organização pro-Israel StandWithUs Brasil. Nesse evento, ela trouxe um desenho de Ronen e usou um broche amarelo, que simboliza a luta pela libertação dos sequestrados. Ela sempre considerou sua casa um lugar lindo e seguro, e nunca imaginou que um ataque tão brutal poderia ocorrer.

A missão de Karina agora é dar voz aos reféns e lutar para que o corpo de seu marido seja trazido de volta para um sepultamento digno. Quando questionada sobre como o governo de Israel tem lidado com a situação, Karina expressou que não quer falar sobre política, mas enfatizou que a guerra não deixa vencedores.

Sobre o ataque de 7 de outubro, ela recorda: "Nos levantamos como sempre para dar um passeio. Começou o bombardeio e, em minutos, nossas vidas mudaram. Meu marido foi o primeiro a ser levado, e eu nunca o vi novamente após mandá-lo para nosso quarto seguro com as meninas. Ele estava armado e houve um confronto, mas infelizmente não teve como se defender dos terroristas que invadiram nossa casa."

Karina e outras reféns foram mantidos em um porão escuro, sem acesso a notícias ou conforto. Embora não tenha enfrentado violência física direta, a violência psicológica foi constante. A comunicação era inexistente, e diariamente Karina se perguntava sobre o paradeiro de suas filhas, que estavam separadas dela.

Após semanas na prisão, foram levadas para um hospital sob circunstâncias tensas, onde finalmente se reencontraram, mas não sem marcas de trauma físico e psicológico. Myca e Yuval estavam feridas; Myca tinha uma fratura no pé e Yuval perdeu parte do dedo e musculatura.

Os dias no cativeiro eram monótonos e sufocantes, mantendo uma semblante de força devido ao amor de mãe, Karina fez tudo o que pôde para proteger suas meninas, assegurando que se mantivessem calmas e unidas. "Não me vejo como heroína. O que importa é que estamos vivas", diz ela, refletindo sobre a experiência devastadora.

Olhando para o futuro, apesar das cicatrizes emocionais e da dor pela perda de Ronen, Karina ainda acredita na esperança de um mundo melhor. "Minha vida antes do dia 7 de outubro acabou. Mas, sendo honesta, a única coisa que nos resta é a esperança de ainda termos um futuro. E sim, ainda haverá paz, porque a esperança é a única coisa que não se perde."