Entretenimento

Partida de Dalton Trevisan: O Vampiro Lendário de Curitiba aos 99 Anos de Idade

2024-12-10

Autor: Pedro

Nesta segunda-feira, o Brasil se despediu de um de seus maiores contistas, o paranaense Dalton Trevisan, que faleceu aos 99 anos. A família confirmou a triste notícia através da conta do Instagram do escritor, pedindo privacidade neste momento difícil. O velório, segundo sua agente literária, Fabiana Faversani, será aberto ao público, respeitando o desejo de Trevisan, mas detalhes sobre local e horário ainda não foram divulgados.

A causa da morte não foi informada, mas em uma homenagem tocante, a família evocou a imagem do escritor como um imortal: "Todo vampiro é imortal. Ou, ao menos, seu legado é".

Trevisan, que se tornou símbolo da literatura curitibana e brasileira, foi uma figura enigmática, famosa por sua aversão à imprensa e à vida pública. Desde a sua última entrevista em 1972, muito pouco se sabia sobre sua vida cotidiana. Ele morava em uma casa emblemática, em um endereço conhecido no coração de Curitiba, e ainda assim mantinha uma aura de mistério, com janelas sempre cerradas.

Dalton Jéerson Trevisan nasceu em 14 de junho de 1925, em uma família de classe média. Desde cedo, demonstrou talento para a escrita e lançou seu primeiro livro, "Sonata ao Luar", aos 20 anos, após sofrer um grave acidente em uma explosão na fábrica de vidro de seu pai, que resultou em longos meses de recuperação e reflexão.

Com uma carreira marcada por inovações literárias, Trevisan também foi um crítico voraz do que ele via como a mediocridade da literatura paranaense na época. Ele fundou a Revista Joaquim, que se destacou por sua repercussão nacional e por desafiar tradições literárias enraizadas, atraindo atenção e reconhecimento que beneficiaram toda uma geração de escritores.

Seus contos, famosos pela concisão e pelas profundas reflexões sobre a condição humana, atraíram prêmios ao longo de sua carreira, incluindo o Jabuti e o prestigioso Camões. Mesmo assim, Trevisan nunca compareceu a cerimônias de premiação, preferindo a companhia de suas palavras ao holofote.

Um de seus personagens mais notáveis, Nelsinho, do conto "O Vampiro de Curitiba", refletiu a solidão angustiante da existência moderna e a luta interna que muitos enfrentam em suas vidas diárias. Este conto, assim como muitos de seus outros trabalhos, foi adaptado para o cinema e teatro, destacando sua influência multifacetada na cultura brasileira.

Ao longo de sua vida, Trevisan continuou a escrever, desafiando as convenções e elaborando narrativas que ecoavam em diversas gerações, sempre com um estilo lacônico e provocador. A sua obsessão pela brevidade e precisão nas palavras se tornou uma assinatura literária, tornando seus contos um desafio e uma inspiração para escritores contemporâneos.

Nos seus últimos anos, apesar de sua imagem reclusa, Trevisan desfrutava da simplicidade de caminhadas matinais e do reconhecimento que recebia dos jovens estudantes de letras, embora sempre ressalvasse que a obra é mais importante que o autor.

Dalton Trevisan deixa um legado duradouro, não apenas como escritor, mas como um ícone que inspirou inúmeras gerações de contistas. Ele deixa a filha Rosana e as netas Katiuscia e Natasha, além de um vazio no coração da literatura nacional. Curitiba se despede de seu "vampiro" — um gênio que, embora tenha partido fisicamente, viverá eternamente nas páginas de seus livros.